quinta-feira, 1 de abril de 2010

Momentos

Como é de costume, eu estava voltando para casa de ônibus após um longo dia de aula, o qual não deveria existir. Estava eu ouvindo a minha música como sempre, pensando na vida e preocupado com o vento que bagunçava meus cabelos e não me deixava olhar as pessoas na rua direito. Dentre os inúmeros elementos que entravam no ônibus, homens e mulheres de todos as idades, tipos, cores, etc. E eu observava a expressão de cada um: cansados do trabalho, felizes porque vão voltar para suas casas, irritavam-se em meio a discussões pelo celular, falavam alto como se fossem selvagens e esmurravam o lado do ônibus como se fossem vândalos. Enfim, nada que pudesse contribuir para o meu dia acontecia até então.

Até que as portas dianteiras do ônibus se abriram, e ela entrou. Devia ter seus 50 anos, era negra, bem gorda, relativamente alta e bastante desajeitada. Usava um lenço preto em sua cabeça e com seu vestido laranja florido, subia as poucas escadas do ônibus com um grande esforço. Em um de seus braços, a alça de uma enorme bolsa enrolada, e na outra mão, um guarda-chuva gigante. "Que figura!", pensei. Então me pus a observar o trajeto daquela mulher enquanto ela procurava seu assento. Assim que ela, após subir as escadas, pôs os pés dentro do ônibus, o motorista arrancou de uma vez. Enquanto tentava se manter em pé, ela lutava contra o maldito efeito que a inércia havia provocado, tentando derrubá-la a todo custo. Ao trocar de mão o guarda-chuva, ela se agarrou em um dos apoios do ônibus e foi prosseguindo lentamente até alcançar o cobrador.

Ao tocar na catraca do ônibus, ela se sentiu realizada. Sorria feito criança, a ponto de sua felicidade ser exalada por cada poro de seu rosto. O cansaço não a parou, a inércia não a venceu, e em nenhum momento ela largou a sua tão preciosa bolsa e seu bizarro guarda-chuva gigante. Ao ultrapassar a catraca, ela olhou em meus olhos e sorriu. Estava tão feliz que a sua respiração tornava-se cada vez mais forte, mas ela não se importava. E ao passar por mim, se assentou do outro lado, e finalmente pôde descansar. E eu permaneci ali, observando aquele momento, que aparentemente não significava nada para ninguém, mas que foi suficiente para me fazer sorrir sozinho.

Um comentário:

Peter Franco disse...

meu amigo, tenho um blog que nunca escrevo, mas hoje: uma inspiração ocorreu. depois olha lá. grande braço!

http://ondeotemposeesconde1.blogspot.com/