quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Canto do Andarilho

Lá estava eu, naquele ônibus infernal que teimava em não prosseguir seu caminho, cujo calor fazia meus poros se perguntarem: "O que fizemos de errado para merecermos isto?". Como sempre, carrego minhas músicas comigo para onde for, e foi em ouví-las que comecei a pensar sobre o gosto do ser humano. "Maldito calor!" - disse eu - "Afinal, porque sentir calor demais é algo ruim?"

Por acaso o muito calor é algo ruim? Só porque incomoda ou porque é um extremo, que nem sentir frio demais? Porque o extremo é ruim? Porque não posso gostar do extremo às vezes? Porque o que incomoda é ruim? Será que o incômodo não seria o que me faz valorizar as coisas que eu gosto? E quais são as coisas que eu gosto? Só gosto porque são bonitas, legais, interessantes, inteligentes e etc? Porque às vezes não posso gostar do que é feio, chato, desinteressante e burro?

Porque eu tenho que pensar sobre o que eu gosto ou sobre o que eu deveria gostar? Não posso pensar a respeito do que não gosto ou sobre o que eu não deveria gostar? E qual é o critério que eu imponho para gostar de algo? Será que eu gosto do próprio critério? E porque eu deveria pensar que eu deveria gostar do critério? Será que eu não posso simplesmente pensar no que eu não gostaria como um critério imposto para eu decidir do que gosto?

E porque eu tenho que parar para pensar sobre o que penso? Será que não posso pensar, simplesmente, no que eu não quero pensar? E porque eu preciso parar para pensar? Não poderia eu, simplesmente, não pensar? E porque estou pensando sobre isso? Será que eu não poderia não pensar em nada? Afinal, quem sou eu? ...?